sábado, 31 de julho de 2010

PRIMEIRO CONGRESSO MUNDIAL SOBRE ANEMIA FALCIFORME EM ACCRA (GHANA)



O MUNDO REUNIU-SE, FINALMENTE, EM CONGRESSO PARA TRATAR DA ANEMIA FALCIFORME.

ESTIVE LÁ, NA MINHA QUALIDADE DE PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO ANGOLANA DE APOIO AOS DOENTES DE ANEMIA FALCIFORME (ADAF).

E PORQUE SOU JORNALISTA, APROVEITEI PARA ESCREVER SOBRE O EVENTO. TENTAÇÃO IRRESISTÍVEL, ATÉ PORQUE PARA O MUNDO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL, A ANEMIA FALCIFORME É SEMPRE UM TEMA ESQUECIDO PELAS PAUTAS.

O QUE ESCREVI E PUBLIQUEI NO SEMANÁRIO O PAÍS, está aqui, disponível para todos.







As esperanças e desesperanças da Anemia Falciforme

Ao longo de praticamente uma semana, o mundo da ciência fechou-se em Accra para debater caminhos e tendências que relancem a esperança dos milhões que enfrentam a dureza da Drepanocitose

Luís Fernando
enviado a Accra (Ghana)

Sem respostas definitivas mas com um pequeno punhado de soluções prováveis, terminou na capital do Ghana, a cidade de Accra, a maior de todas as reuniões alguma vez realizada para debater, em ambiente de ciência, o que se conhece e o que se precisa saber e fazer em nome dos doentes de Anemia Falciforme (Drepanocitose).
Desta vez foi o Primeiro Congresso Mundial sobre a Anemia Falciforme, evento que deverá ter inaugurado um novo ciclo no modo de a Humanidade lidar com a patologia, estabelecendo, para já, a necessidade de encontros semelhantes de tempos a tempos. Assim, o próximo congresso mundial será dentro de dois anos, na cidade norte americana de Atlanta.
Accra foi, no entendimento de grande parte dos delegados ao Congresso, um ponto de viragem por ter conseguido a mais alargada participação de sempre, com a presença dos mais influentes e prestigiados pesquisadores à escala planetária. Durante as intensas jornadas, praticamente tudo o que a Humanidade tem como conhecimento acumulado sobre a doença – desde diagnóstico, terapia, acompanhamento e até o modo de a evitar – foi abordado nos vários painéis, ficando-se a saber, com exactidão, o que acontece a respeito dessa doença do sangue em todas as regiões do Mundo onde ela está presente, a saber: África em maior proporção, América, Médio Oriente, Ásia e Europa Mediterrânica.
Respostas no presente

Médicos, enfermeiros, pessoal clínico de distintos saberes e habilidades, pacientes e pais, de um encontro com a dimensão do Congresso de Accra, esperam sempre o mesmo: o que fazer no dia-a-dia da batalha contra a Anemia Falciforme?
Os procedimentos no manuseio dos casos, batidos e rebatidos pela prática hospitalar, não mostraram grandes variações, numa análise global das experiências transmitidas pelos oradores, pelo que a atenção principal centrou-se nas pesquisas de medicamentos, os novos e os que já existem há algum tempo.
A satisfação que tomou conta do grande encontro foi pelo facto de as pesquisas demonstrarem que este campo continua acutilante, empenhado, contrariando o severo deserto de muitas décadas do passado, em que os médicos e seus assistentes dispunham de pouquíssimas opções para aliviar o sofrimento dos seus pacientes. Escassas opções farmacológicas para minguados resultados de sobrevida, uma verdade amarga que se tornou traço distintivo da luta universal contra a Anemia Falciforme, a tal ponto que muitos profissionais de saúde aprenderam em cátedras e manuais que a existência da Drepanocitose não era mais do que um desígnio do Destino para estabelecer o princípio da selecção natural da espécie.

O caminho até Atlanta
Depois do Ghana, abre-se um percurso que vai exigir novas e decisivas performances da ciência no seu conjunto, para que o congresso de 2012 não se converta em reunião para “mais do mesmo”. Ou seja, o grande repto lançado pelo evento que acaba de ter lugar em Accra é o de se trabalhar intensamente para que se chegue ao encontro da América com respostas clínicas efectivas. Os doentes esperam isso, os seus familiares e, obviamente, os profissionais de saúde pública.

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