sábado, 31 de julho de 2010

A ANEMIA FALCIFORME E A GUERRA DOS FÁRMACOS




Lá decorreu, portanto, o primeiro Congresso Mundial sobre Anemia Falciforme, que colocou, quiçá como nunca antes, a chamada “doença das células” – no dizer inocente das nossas populações – no palco dos assuntos de que se falam, com maior ou menor interesse da comunicação social.
O que há quinze dias nesta mesma coluna antecipávamos que fosse acontecer, não fugiu um milímetro sequer dos factos: o evento não encheu os noticiários televisivos nem as rádios lhe dedicaram grandes espaços com comentadores residentes ou de passagem a debitar altos saberes. Os jornais, salvo alguns do país anfitrião (Ghana), pareceram mais interessados no rescaldo da Copa do Mundo da FIFA, nas novas colecções de moda na Europa e nos tropeços da guerra dos aliados no Afeganistão. Basta que se vá ao motor de busca da Internet mais popular, o Google, se digite “primeiro congresso mundial sobre anemia falciforme” e o pouco que lá se pode ler é quase só e apenas o que um tal enviado da imprensa angolana debita.
Numa palavra, pois, a mediatização da Anemia Falciforme enquanto grave e doloroso mal que afecta milhões, continua muito pobrezinha, tímida e inexpressiva, muito provavelmente porque esses milhões não são os milhões que poderiam fazer tilintar as caixas registadoras dos que planeiam a geografia monetária do Mundo. É, claramente, um problema de mercados: mercado de audiência de mídia, mercado de consumidores, mercado de capitais para apoiar as pesquisas.

Indiferença...

A cristalizada indiferença do Mundo que define os rumos da Humanidade para os assuntos que não são da esfera do seu umbigo, não deixou de estar presente no Congresso de Accra, sob diversas formas. Seria o cúmulo da ingenuidade esperar que uma reunião desse calibre, organizada nos moldes em que foi organizada e com os centros de decisão e financiamento localizados num determinado ponto, ela fosse transformar-se num fórum absolutamente asséptico, com uma igualdade insuspeita de oportunidades para todos, quer na abertura dos caminhos para a participação, quer na chance de se poder transmitir ideias ao Mundo.
Deve-se dizer, com coragem e em consciência, que o Congresso do Ghana, ao mesmo tempo que se mostrou como um evento global para se fazer o ponto da situação da doença drepanocítica, tomar-lhe a pulsação, perceber o que andam os governos e os especialistas nas diferentes regiões do Mundo a fazer, ele teve o inevitável direccionamento subtil que todo organizador – seja de uma pequena festa de quintal como de uma seríssima reunião da ONU- faz sempre questão que tenha.
Por muito que se tivesse tido o cuidado de aparentar que se estava em Accra com predisposição e mente aberta para se ouvir de todos o que todos fazem, pesquisam e contribuem a favor dos sofridos doentes de Anemia Falciforme, um olhar menos displicente para o conteúdo dos debates permitirá chegar facilmente à conclusão que quem organizou – insiste-se, organizou e meteu dinheiro para que as condições logísticas não inviabilizassem o encontro: passagens aéreas, hotéis, refeições, documentação…- tinha uma opção a fazer vingar ou, no mínimo, a “vender” aos presentes como ideia. Isso, sobretudo, no capítulo dos fármacos a definir como os ideais…ou o ideal.

Medegan…

É portanto compreensível que numa reunião como essa, um outsider – ou seja, pessoa ou entidade que corre por fora – tenha dificuldade real para se impor. Sentiu-se isso, claramente, com o inventor do VK 500, o bioquímico beninense Medegan Fagla Jerome. Não só não recebeu dos organizadores qualquer convite expresso para, enquanto pesquisador, expor as suas experiências como aconteceu com estudiosos da Índia, de Granada, do Brasil, do Bahreim, da RDC, do Ghana e de outros lugares (e aqui não colhe a alegação mil vezes repetida de não possuir trabalhos científicos publicados, até porque o primeiro grande ensaio que levou à validação da descoberta pelo Institiuto Francês de Propriedade Industrial, o INPI, e a subsequente autorização de produção do VK 500 por um laboratório do sul da França foi feito numa instituição científica de Accra, há 20 anos) como foi nítida a intenção de o acantonar, percebida na única sessão do Congresso em que participou.
Foi na sexta-feira 23 de Julho, dia em que o evento terminou, e aconteceu durante a manhã, quando o painel constituído por vários especialistas convidados respondia a perguntas escritas recebidas da plateia. O beninense enviou para o presidium a sua pergunta, redigida em francês e que –como revelou depois a O PAÍS – dizia mais ou menos isto: “Meu nome é Medegan Fagla Jerome, sou médico e bioquímico do Benin, trabalho em pesquisas sobre Anemia Falciforme e tenho um produto patenteado, o VK 500, e gostaria de ouvir do painel um comentário sobre o valor das plantas na terapia da Anemia Falciforme”.
Na ordem e no tempo em que a pergunta chegou à mesa, percebeu-se claramente que ela foi sendo protelada até ao momento em que o moderador – um conceituado professor ghanense, curiosamente o homem que há 20 anos liderara o ensaio para aferir da eficácia ou não do VK 500 em Accra – anunciou, não sem uma certa surpresa, que ia dar daí a pouco a oportunidade para uma última pergunta. Temendo que a sua questão fosse intencionalmente omitida, Medegan Fagla Jerome reenviou ao painel a mesma pergunta, mas agora redigida em língua inglesa, e que, in extremis, acabou por ser apresentada. Por razões que não parecem muito ligadas à pressa, o apresentador-moderador disse apenas: “alguém da plateia pergunta sobre a utilização de plantas medicinais no tratamento da Anemia Falciforme”. Nem referência ao autor (afinal Medegan Fagla Jerome não é propriamente um anónimo nestas lides para ser apresentado apenas como “alguém da plateia”), nem alusão ao nome do seu produto, no que foi defendido por um dos integrantes da delegação angolana com quem o enviado de O PAÍS comentou o episódio, como uma “necessidade talvez de não se fazer publicidade comercial num evento destes”. Talvez seja…

Cannabis…

Na resposta, o especialista de Granada relatou a experiência do emprego com sucesso no seu país da marijuana no alívio dos sintomas da Anemia Falciforme (e esta?) mas outro membro da mesa apressou-se a pedir a palavra para dizer que “a ciência só conhece um caso em que as plantas serviram para tratar de uma doença em África, que é a malária” e que na “Anemia Falciforme nada disso faz sentido”.
Pronunciamento que, como era de esperar, provocou visível desconforto em Medegan Fagla Jerome e com certeza em todos os demais participantes – como a delegada da Nigéria, que falara emocionada e longamente na véspera sobre o grande sucesso do uso de plantas medicinais nas aldeias do seu país, para cuidar dos doentes de Anemia Falciforme – e que conduziu a um enérgico bate-boca nos corredores do Centro Internacional de Conferências de Accra.
Momentos como esse, infelizmente com ecos anteriores e reiterados noutros lugares como aqui mesmo em Angola, tendentes a “demonstrar” que o uso de plantas no combate aos males do corpo é coisa de charlatães (de onde virá essa teoria?), provocam angústia nos doentes, que só querem, no meio de toda a polémica, uma solução para o seu problema de saúde: é-lhes indiferente que o alívio se chame cápsula, injecção, comprimido, chá, pau, raiz, pasta, folha. Só precisam de melhorar o seu estado clínico e estar livres da toxicidade que certos remédios contêm.
No caso específico do VK 500, é muito mais acentuada essa angústia, quando a esmagadora maioria dos que utilizam o produto se sentem bem e a única coisa que querem é que não lhes falte. E para os que por uma razão ou outra acompanham o quase calvário do beninense, não podem deixar de falar em injustiça e incompreensão (no mínimo) quando sabem que o homem continua a ser intensamente procurado no seu consultório em Cotonou. Coincidência ou não, a sua chegada tardia ao Congresso de Accra ficou a dever-se a um caso gravíssimo de um adolescente angolano de 19 anos, chegado dias antes ao Benin, e que tratou com pleno sucesso antes de fazer a viagem até ao Ghana.
Para os seus detractores, estes são apenas episódios isolados que não dizem nada, pois até pode se dar o caso de “os pacientes melhorarem por simples acaso”. Variadíssimas vezes esta alegação foi escutada, mas o certo é que há quase três décadas que o mundo que pode fazê-lo procura por Medegan Fagla Jerome para encontrar alívio para a Anemia Falciforme.
Os menos intolerantes e os que se vão convertendo ao cada vez maior volume de evidências, aceitam que o VK 500 tem certamente propriedades válidas e eficazes, mas que, para derrubar as últimas barreiras, é preciso que, de uma vez por todas, se faça um ensaio com uma amostra representativa de doentes. O tal que a Associação Angolana de Apoio aos Doentes de Anemia Falciforme – é bom que se diga, a bem da verdade – fez questão de solicitar a seu tempo às autoridades competentes que fosse feito, para não se caminhar em terreno de suspeições. Nunca foi feito e, para piorar, a ADAF surgiu no meio do fogo cruzado como “irresponsável por tentar impingir um remédio de que não se tinham estudos conclusivos”, como se não fosse ela, pelo contrário, a exigir, por correspondência oficial e todos os demais meios disponíveis, que os especialistas angolanos dissessem de sua verdade o que tem de bom ou de mau o composto de plantas vindo do Benin. Episódio que, contudo, se tem como ultrapassado, até porque a urgência da Anemia Falciforme não está para guerrilhas que desunem, como se sabe.

Ensaio....

Há que seguir em frente. E seguir em frente quer dizer que Medegan Fagla Jerome terá de jogar a sua última cartada, fazendo das tripas coração para promover esse ensaio, ao qual, verdade seja dita, se recusa algumas vezes por achar que se o remédio já foi patenteado, é porque permanece válido o estudo que conduziu a esse momento. Falta pragmatismo ao beninense, já se vê, e muito jogo de cintura para suplantar as armadilhas naturais do mais intrincado dos mundos geradores de receitas bilionárias, a indústria farmacêutica. Há que perceber que à mulher de César não basta sê-lo, tem também de parecer!
O mundo científico, os Estados, as instituições de saúde, pedem certezas, provas, demonstrações. Neste caso, batem e baterão sempre na tecla de que é incontornável o ensaio em humanos, para se conhecerem todos os parâmetros do produto: princípio activo, eficácia, reacções adversas, etc. Há toda a legitimidade na posição, em defesa das populações que se hão-de expor ao uso massivo posterior do fármaco.
Foi isso o que escutou Medegan Fagla Jerome nos muitos encontros de bastidores e informais que teve em Accra no âmbito do Congresso sobre Anemia Falciforme. Falou com médicos do Brasil, do Congo Democrático, de Angola, do Ghana: em todos eles, o mesmo.
Portanto, o caminho está indicado: sair-se do clima de suspeição e desinteligências, para se fazer o que tem de ser feito: um ensaio abrangente, que acabe com as dúvidas em definitivo. O resto será o resto.
E a pergunta levantada a partir de Accra recoloca-se: quem dá o primeiro passo no financiamento do ensaio do VK 500?
Se nada acontecer, chegaremos a Atlanta 2012 para o segundo Congresso Mundial sobre Anemia Falciforme com o VK 500 ainda como o pária que todos querem, para bem ou para mal. O que seria uma tremendíssima pena, convenhamos.

3 comentários:

Giorgio cingari disse...

Olá, o que você acha deste?

http://www.sosglobi.fr/cgi-bin/articles.php?lng=fr&pg=8542&prt=2

Unknown disse...

Meu nome é Victoria de Oslo vivendo em Reino Unido, eu quero testemunhar sobre Dr. Micheal Osas, Deus continuará a abençoá-los mais abundantemente para as boas obras que você está fazendo na vida das pessoas, eu vou continuar a escrever bem e postar depoimentos sobre você na Internet, i foi testado HIV positivo em 2011 e me senti deprimido todo esse tempo, até que eu vi um blog sobre o Dr. SAOS micheal curadas as pessoas com ervas e poderes espirituais, eu não acreditava, mas eu decidi dar-lhe uma tente, entrei em contato com ele e seguiu as instruções dadas para a minha surpresa, eu também tenho a minha cura, eu estou tão feliz de ser curada, então eu prometi para transmitir essa mensagem para o mundo. Se você tiver qualquer problema ou você também está infectado com alguma doença como HIV / AIDS, Staphylococcus, Herpes, Câncer, Hepatite, envie um e-mail para dr.Micheal Osas-lo agora herbalcure4u@gmail.com or herbalcure4u@hotmail.com . Eu respondo por ele 100% você pode me adicionar no facebook: coolbabytp ou coolbabytp4u@facebook.com

Unknown disse...

Estou muito feliz em compartilhar esta grande notícia sobre um grande e poderoso Herbalist Odin Ordia que me curou desta doença mortal (HIV / AIDS e diabetes), eu sofria de doença por mais de 8 anos, Felizmente para mim eu estava navegando na Internet quando vi uma mulher depor sobre um homem poderoso e grande (Odin Ordia), que tem ajudado a curar muitos de doenças mal e por isso ela também mencionou que esse mesmo homem pode igualmente curar e curar qualquer doença com a medicina herbal, assim, sem desperdiçar mais vez que em contato com ele no e-mail, ela acrescentou ao depoimento sobre (odincurahiv@gmail.com) Expliquei todos os meus problemas com ele, ele então respondeu e e me aconselhou a não se preocupar que ele vai me ajudar a preparar um medicamento à base de plantas e ele vai enviá-lo para mim via correio. Ele também me deu instruções sobre como usar depois que eu comecei a sentir mudanças no meu corpo sistema, mais tarde eu fui ao hospital para consulta médica e para minha surpresa eu estava completamente curado. Estou muito feliz que eu estou seguro desta doença com a ajuda de DR. Odin Ordia. Pode chegar a mim pelo meu endereço de e-mail em susdykes@gmail.com