in TRIPLO V.com.org , de FRANCISCO SOARES
Nos últimos tempos mais nomes e peças há a considerar. Destacaria Jomo Fortunato, pela crítica nítida, incisiva e concentrada em primeiro lugar no artefacto literário. Veja-se por exemplo o início da última recensão que fez, a Clandestinos no Paraíso de Luís Fernando: “a reutilização do pendor humorístico da crónica, o recurso à descrição pormenorizada da reportagem e a hábil transfiguração da objectividade da notícia podem constituir subsídios válidos à composição da tessitura complexa do romance” (Fortunato, 2005: 2). Isto é colocado logo no início da recensão. A hipótese de partida é, portanto, estritamente literária: que tais ingredientes são válidos para tecer um romance. Depois desenvolve a leitura do texto, sendo-lhe fiel mas sem deixar-se cair no fechamento formalista, rentabilizando portanto a análise literária pelas relações contextuais que ela estabelece, relações que já na obra estão sugeridas e organizadas. Por isso nos diz que a obra (Clandestinos no Paraíso) é um “retrato social e comportamental de um segmento reprovável da sociedade luandense” (não diz que tem de o ser, mas que é). Ou seja, há nele uma leitura artística e estrutural, mas também a consciência da interacção entre o sistema literário e o sistema social. Por essa característica, tenderia a incluí-lo, com toda a saudável heterodoxia de que dá sinais, na linhagem de Mário António, David Mestre e Arlindo Barbeitos.
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