domingo, 29 de junho de 2008

OLHANDO PARA AS OBRAS DOS OUTROS



in "ANGOLA DIGITAL ARTE E CULTURA"


O jornalista e escritor angolano Luís Fernando considerou, esta quinta-feira à noite, que o novo livro de crónicas de Fragata de Morais constituiu um verdadeiro instrumento para a memória colectiva do povo angolano, pois surgiu num ano especialmente positivo, sobretudo pela carga política de muitos dos seus textos.


O ex-director do Jornal de Angola fez essa abordagem durante a cerimónia de apresentação do trabalho, publicado pela editorial Nzila, tendo afirmado que os textos carregam a marca de um período conturbado da nação, recordando a época da "esperança de uma paz definitiva na sequencia dos Acordos de Bicesse", em 1991.Para o apresentador de "Memórias da Ilha", lançado no âmbito das festividades dos 432 anos da cidade de Luanda, o leitor poderá aproveitar esses textos para perceber como "os nossos ricos sonhos foram dolorosamente truncados". "Lendo as crónicas desse momento da nossa história como nação, acabaremos por perceber como aqueles que nos empurraram para as eleições aceleradas no curto espaço de 16 meses se borrifaram para o desfile interminável de caixões rumo a cemitérios improvisados e pelos nossos milhares de mortos insepultos, as cidades explodidas; bombardeadas; os medos, as angústias, o nosso infinito sofrimento".No entender de Luís Fernando, uma crónica serve para isso mesmo: reter o tempo, "fazendo de lembrança grata ou amarga para quem foi coetâneo do autor; mas servindo de luz, de ensinamento de conhecimento do passado para quem não o viveu, para quem, entre outras lições, se aprenda definitivamente o que custou a liberdade".


O jornalista afirmou que é lendo obras como “Memórias da Ilha” que se perpetua, nas lembranças de gerações diferentes, o facto de Luanda já ter tido "febres piores que a cólera e que tem problemas tão antigos e tão insolúveis que dão cabo de todas as gerações, para ninguém se rir de ninguém".Para os mais constantes do Jornal de Angola, Luís Fernando recorda que este livro já foi lido no passado, em formato diferente, com o cheiro a tinta especial dos tablóides, entre notícias boas algumas e angustiantes outras, publicadas por aquele periódico."Agora, sejam eles como os que não leram as crónicas quando elas vieram estampadas no Jornal entre 1991 e 2005, temos todos a oportunidade de encontrar reunidas, num só volume, esses textos que têm o valor eterno do género: o de capturar no tempo pedaços de história que muito dificilmente se conseguiria de outro modo", fundamentou.De forma a evitar equívocos, o jornalista explica que a obra não se circunscreve apenas na realidade da Ilha de Luanda, pois o autor apresenta um olhar atento, crítico e incisivo à volta de toda a cidade, mas sem pôr de parte o país inteiro.


"Só tenho que vos sugerir a leitura, para que se alegrem e se entristeçam com os mesmos prazeres e angústias que acompanharam Fragata de Morais nos dias de inspiração das suas crónicas, que foi deixando sem se cansar e sem cobrar nada nas bancas do nosso jornal, desde o princípio de 90 a princípios de 2000", concluiu.

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